BC discute segurança e transação offline do real digital
– 09/09/2021 – Compartilhe! Foto: Marcello Casal Jr.
O Banco Central (BC) promoveu mais uma rodada de debates sobre a criação de uma moeda digital oficialmente brasileira, que, a exemplo da moeda em papel, é certificada pela autoridade monetária do paÃs: o real digital.
No encontro desta quinta-feira (9), organizado para debater diretrizes gerais, benefÃcios e tecnologias a serem adotados para implantação da versão digital da moeda brasileira, falou-se sobre a necessidade de viabilizar transações offline com segurança e sobre a importância de incluir no sistema bancário a população sem acesso a ele e com acesso limitado a recursos como smartphones, energia elétrica e internet.
O seminário virtual Operações Offline é o terceiro da série O Real Digital. O objetivo do Banco Central é estabelecer as bases para o eventual desenvolvimento de uma CBDC (Central Bank Digital Currency) que venha a acompanhar o dinamismo da evolução tecnológica da economia brasileira e a aumentar a eficiência do sistema de pagamentos de varejo.
Dessa forma, o BC pretende contribuir para o surgimento de novos modelos de negócio e de outras inovações baseadas nos avanços tecnológicos, favorecendo a participação do paÃs em outros cenários econômicos e aumentando sua eficiência nas transações transfronteiriças.
Moedas digitais X criptomoedas
Moedas digitais são muito diferentes de criptomoedas, conforme já havia explicado o BC em webinários anteriores. “Os criptoativos, como o bitcoin, não detêm as caracterÃsticas de uma moeda, mas sim de um ativo. A opinião do Banco Central sobre criptoativos continua a mesma: estes são ativos arriscados, não regulados pelo Banco Central, e devem ser tratados com cautela pelo públicoâ€, disse anteriormente o coordenador dos trabalhos sobre a moeda digital do Banco Central, Fabio Araújo.
Já a CBDC, a moeda digital do Banco Central, é uma nova forma de representação da moeda já emitida pela autoridade monetária nacional. Ou seja, faz parte da polÃtica monetária do paÃs de emissão e conta com a garantia dada por essa polÃtica.
CBDC inclusiva
No debate de hoje, a diretora de Desenvolvimento de Negócios em Moedas digitais na G+D Currency Technology, Tanja Hessdörfer, destacou que, para implementar o real digital, o BC “não pode contar com os usuários tendo celulares de última geração, conhecimento tecnológico, equipamento modernos ou conexão de internet de alta velocidadeâ€.
Por isso, acrescentou Tanja, para ter um sistema de CBDC inclusivo, é preciso oferecer carteiras para a população não bancarizada, de forma a funcionar sem conta bancária, de maneira simples, intuitiva e com interface orientada ao usuário. “É importante que esses equipamentos simples tenham funcionalidade offlineâ€, disse ela.
Especialista do Setor Financeiro do Grupo de Desenvolvimento de Sistemas de Pagamentos do Banco Mundial, Harish Natarajan foi além e considerou “obrigatório†que a moeda seja “usável” em vários contextos e situações, inclusive quando não há eletricidade, nem conectividade telefônica, como no caso de catástrofes.
Nesse sentido, é fundamental as autoridades estarem sempre atualizadas com as novidades tecnológicas que garantam transações no modo offline, de forma a dar o máximo de segurança aos procedimentos. “O momento [atual] é de investigar as tecnologias que existem, o que é possÃvel e quais são as limitações. Este é o momento certo de os brancos centrais investigarem issoâ€, enfatizou Tanja Hessdörfer.
Para Natarajan, do ponto de vista da inclusão, há que se considerar os custos decorrentes de provedores; de serviços e da gestão dos pontos de acesso, na busca por sistemas sofisticados e de capacidade de manutenção e de distribuição para fazer desse processo algo “factÃvel para pessoas que não tenham acesso a smartphoneâ€. “A forma offline talvez requeira um dispositivo adicional. É necessário ter, além dela, a forma de pagamento tradicional onlineâ€, sugeriu o especialista do Banco Mundial.
Sócio da Oliver Wyman, empresa especializada em gestão, Michael Wagner disse que a rastreabilidade é algo que beneficia a segurança das transações financeiras. “A segurança online é maior do que a offline. Isso é fato, e torna necessário termos atenção com o nÃvel de acesso que criminosos podem terâ€, disse Wagner, ao defender que “capacidade de análise e de perÃcia são fundamentais para garantir a segurança em um nÃvel aceitávelâ€.
Segundo o chefe de gabinete da Diretoria de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do Banco Central, Ricardo Mourão, um dos objetivos da autoridade monetária brasileira com a criação da moeda digital é reduzir o uso de papel, “porque é custoso, paga impostos e paga logÃstica, o que implica mais custosâ€.
Tanja Hessdörfer destacou que a chave para aceitação da versão digital do real é promover a liberdade de escolha para as pessoas. “Creio que, enquanto as pessoas puderem escolher se vão pagar com um ou outro, haverá aceitaçãoâ€, disse.
“No entanto, se forçarem as pessoas a mudar do dinheiro em papel para o CBDC, isso provavelmente não irá para a direção certa e deixará as pessoas céticas com relação à s tecnologias. Nesse sentido, eu promoveria a liberdade de escolhaâ€, completou.
Da redação com infrormações da EBC